quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Inacabada...



A lua está incontente no seu espaço, triste, abandonado,
Há um cansaço que se forma e aumenta de noite para noite
Como um devorador inconstante da realidade
Deixa-a com uma expressão vaga e pensativa
Impossível de decifrar, está fechada em si
Revivendo e encenando tudo por dentro
Treinando arduamente para que seja tudo perfeito
Uma e uma vez mais, sem cessar
Num falso palco de um teatro cheio de espectadores
Descontentes com a situação, tenta brilhar

Ela não sabe que eu sei que ele se foi embora,
Ela não sabe que eu sei que não posso confiar,
Ela não sabe que eu sei que não há mais sol,
Ela não sabe que eu sei que chora por ele

Eu vejo as cores, reparo no branco pálido pouco brilhante,
Nos seus traços vincados de desespero e incerteza e
Na expressão que ela cria quando faz uma pergunta
Quando se volta e espera pelo guião,
Quando grita as suas deixas, espereita pelo canto do olho
Esperando encontra-lo o olhar para ela mas
Em vez disso encontra um vazio profundo

O amarelo avermelhado foi embora, de vermelho já não há nada e
O amarelo aos poucos vai morrendo também, deixando-se desvanecer
Fica branco, fica cinzento, escuro, claro, inconstante
Não há técnico de luzes que as organize

Ela não sabe que eu sei que foi preciso
Ela não sabe que eu sei que foi causado por ele
Ela não sabe que eu sei que já não há sol
Ela não sabe que eu sei que não há volta a dar

Mas ela sabe que esta não é ultima linha de texto
O sol foi embora
Cai o pano, ninguém aplaude
Numa plateia tão chata de banal que é
Uns sentados, outros em pé
Olham com tristeza, choram e dizem
O sol foi embora

A peça inacabada, abalada por tudo isto,
Corre magoada para um canto e deixa-se desfalecer
Acabando com todo o espectáculo, de fora, por dentro
Choro também com todos eles mas secretamente
Espero que o sol nunca mais volte.

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