quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Inacabada...



A lua está incontente no seu espaço, triste, abandonado,
Há um cansaço que se forma e aumenta de noite para noite
Como um devorador inconstante da realidade
Deixa-a com uma expressão vaga e pensativa
Impossível de decifrar, está fechada em si
Revivendo e encenando tudo por dentro
Treinando arduamente para que seja tudo perfeito
Uma e uma vez mais, sem cessar
Num falso palco de um teatro cheio de espectadores
Descontentes com a situação, tenta brilhar

Ela não sabe que eu sei que ele se foi embora,
Ela não sabe que eu sei que não posso confiar,
Ela não sabe que eu sei que não há mais sol,
Ela não sabe que eu sei que chora por ele

Eu vejo as cores, reparo no branco pálido pouco brilhante,
Nos seus traços vincados de desespero e incerteza e
Na expressão que ela cria quando faz uma pergunta
Quando se volta e espera pelo guião,
Quando grita as suas deixas, espereita pelo canto do olho
Esperando encontra-lo o olhar para ela mas
Em vez disso encontra um vazio profundo

O amarelo avermelhado foi embora, de vermelho já não há nada e
O amarelo aos poucos vai morrendo também, deixando-se desvanecer
Fica branco, fica cinzento, escuro, claro, inconstante
Não há técnico de luzes que as organize

Ela não sabe que eu sei que foi preciso
Ela não sabe que eu sei que foi causado por ele
Ela não sabe que eu sei que já não há sol
Ela não sabe que eu sei que não há volta a dar

Mas ela sabe que esta não é ultima linha de texto
O sol foi embora
Cai o pano, ninguém aplaude
Numa plateia tão chata de banal que é
Uns sentados, outros em pé
Olham com tristeza, choram e dizem
O sol foi embora

A peça inacabada, abalada por tudo isto,
Corre magoada para um canto e deixa-se desfalecer
Acabando com todo o espectáculo, de fora, por dentro
Choro também com todos eles mas secretamente
Espero que o sol nunca mais volte.

sábado, 25 de setembro de 2010

Partes de mim, partes dos erros

Há partes de mim que eu dou às pessoas. Não por querer, são arrancadas de mim, brutalmente algumas, outras, nem por isso, mas mesmo assim, vão embora de mim e não voltam mais.
Muitas dessas partes fazem-me imensa falta, fazem menos de mim aquilo que sou hoje, tornam-me menos criança, menos sonhadora, menos ingénua, menos eu.
Ser menos todos esses os adjectivos, possivelmente, é positivo para a maior parte das pessoas, mas a mim deixa-me apenas revoltada, não gosto. Sinto falta deles, faziam-me feliz, faziam algo maior de mim, não mais forte, nem mais conhecedor, mas maior em si, maior porque me faziam acreditar verdadeiramente, que as coisas não são bem assim, havia esperança de que, talvez, eu pudesse ter razão, e haveria realmente, algo mais que tudo o que me apresentam.
Eu queria acreditar com todas as minhas forças nas historias de príncipes e princesas, queria sonhar com o castelo e o poney, até talvez com a fada madrinha boa que me daria o vestido e os sapatos, queria acreditar no amor, na verdade, na simplicidade, na compaixão e no bem. Principalmente no bem, o triunfo dos justos.
É-me difícil acreditar em qualquer uma dessas coisas neste momento, sei que existem algumas, mas sei que não são para todos, não basta querer, não basta fazer por isso. É uma questão de sorte, a felicidade e a justiça são aleatorias, não nascem do esforço, nem do trabalho, nem do facto de seremos boas ou más pessoas.
É como jogar a roleta russa, um dia falha, outro dia, pode acertar, a diferença, é que realmente, não nos mata, apenas vem buscar parte de nós e dá-nos algo em troca. Conhecimento, experiência, força.
Conhecimento para não repetir o erro, experiência para aguentar com ele e força para nos levantarmos e continuarmos o caminho. Porque esse é longo, e se não o fizeres tu, ninguém o fará por ti.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Mim ti ele tu eu por ele

Vidram-se os olhos presos em ti, sem nada revelar
Muito torna-se tão claro, tão simples, paradoxalmente
Formam-se mais perguntas que nunca, mais duvidas que sempre
Sempre, sempre e sempre, foi o que tu me disseste, foi em ti que eu acreditei
Não nele, talvez nele, mas não nele
Porque tu, és tu, e tu não farás de mim
Aquilo que fizeste dele, porque eu sou, serei
Sempre fui, mais do que tudo isto.

Miragem fugídia, som inquietante este do meu coração, preso, descontrolado
Ansioso por gritar ao mundo o seu descontentamento
Desacreditando vai lutando por si numa longa e amarga maré de traições
Já vai longe, longe de mais, longe da minha alma
Contra ou a favor é a grande pergunta
Mas raras são as respostas em que tu vais sorrir
E raras são as respostas em que não poderás confiar.


Porque nunca te farei a ti o que fizeste a mim por ele
Porque por ele poderia morrer, porque por ele poderia sofrer
Mas por ele nunca te iria deixar
Porque por ti eu sinto amor, porque em ti eu confiei
Porque por ele não fiz por ti o que tu fizeste por mim
Porque por mim, bastou o que ele fez e foi de mais o que tu fizeste.

Eu, mim e mais alguns.

É bastante simples, não estou aqui para magoar ninguém.
Já fiz coisas que não são minhas, mas continuo eu.

Não se trata de ti, deste ou daquele,
Não se trata do local ou do instante.

Não se trata da minha repetição constante
Da tentativa de descobrir as respostas,
Muito menos, da de descobrir as perguntas.

Olho para cima, inspiro
Olho em frente, expiro,
Rodo ligeiramente a face
E deixo-a ser esmagada pelo meu punho esquerdo
Cheio de convicções.

Nada parece mudar e no entanto, continuo eu,
Sendo eu, procurando mim.

Mas é de mim que tu gostas, logo, encontrei-me.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Mais umas lágrimas...

"Finalmente a Lua, com as suas crateras, resplandecente, iniciou a sua aparente ascensão a partir do mar, projectando um prima de luz através das águas que escureciam devagar, dividindo-se em mil partes distintas, cada uma mais bonita do que a outra. Exactamente ao mesmo tempo, o Sol encontrava-se com o horizonte na direcção oposta, pintando o céu de vermelho, cor-de-laranja e amarelo, como se o Paraíso acima tivesse subitamente aberto as suas portas e deixado toda aquela beleza evadir-se dos seus confins divinos. O oceano transformava-se em prata dourada à medida que as cores volúveis se reflectiam nele, as águas encrespando-se e cintilando com a mudança de luz, uma visão gloriosa, quase como no princípio do mundo.
O Sol continuo a cair, projectando o seu brilho tão longe quanto a vista podia alcançar, antes de por fim, lentamente, descer sob as ondas. A Lua continuava a sua vagarosa escalada, tremeluzindo em mil diferentes tons de amarelo, cada vez mais pálidos, antes de finalmente se tornar da cor das estrelas.
Jamie observou tudo isto em silêncio, o meu braço ficou apoiando-a com firmeza, a sua respiração ofegante a fraca. Quando o céu por fim, escureceu e as primeiras luzes cintilantes começaram a aparecer no distante firmamento sul, tomei-a nos braços. Beijei-lhe delicadamente ambas as faces e depois, por fim, os lábios.
- É isto - disse eu - exactamente o que eu sinto por ti."

Nicholas Sparks em
Um momento inesquecível


De longe, a melhor comparação de sempre, o melhor autor de romances de sempre e a rapariga mais chorona de sempre. Vivo eu e vive ele por me fazer sentir tanto.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Calmantes

Tomar calmantes é a batota de todos os fracos.
É a batota de todos aqueles que não querem ou não conseguem enfrentar os seus problemas.
Os calmantes são a porta das traseiras para fugir aos paparazzi, são os contadores de cartas nos casinos, são ainda mais, um escape à realidade. Um sonho alternativo àquilo que nós chamamos de "a vida". Não há como fugir, ninguém lhe foge desta ou de outra maneira qualquer. A vida é certa, está lá e quando já não estiver, tenho imensa pena, porque se assim o quisestes foi porque esgotaste os calmantes e eras mau perdedor. Antes perder que não jogar de todo? Ou não? Não sei, quero um calmante.