segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Aos Reis do Mundo (para que saibam a quem me refiro)

Quando somos crianças somos movidos por um desejo infindável de crescer. Queremos sempre mais, queremos ser mais altos, mais fortes, mais rápidos, queremos ser como os “grandes”, queremos poder conduzir, queremos poder chegar à prateleira mais alta da cozinha, queremos ser capazes de nos vestir sozinhos, de sermos nós a mandar naquilo que queremos comer, fazer ou o que seja. Queremos controlo total e absoluto, queremos independência.

Escusado será dizer que nenhuma criança conseguirá tal troféu por mais que o queira. A independência não é algo que se quer, ou que se compra. Por melhores que sejam as nossas intenções ela nunca virá até nós. Só existe uma maneira de a obter: Conquista.

E seria uma desgraça se conquistar tal importância fosse através da maneira como nos vestimos, falamos ou agimos em público.

Eu hoje sou criança, num pijama às riscas ou numa saia que me mostre as partes íntimas;

Eu hoje sou criança, mostrando respeito aos mais velhos, ou tratando-os como lixo. Impondo-lhes a minha superioridade, coroando-me rainha e cuspindo-lhes arrogância na cara;

Eu hoje sou criança com um cigarro de chocolate ou com um dos verdadeiros;

Eu hoje sou criança com uma garrafa de coca-cola ou com uma garrafa de vodka;

Eu hoje sou criança com um saquinho de gomas ou um de erva.

Isto para vos dizer a vós, criancinhas que lá por andarem com o rei na barriga, não significa que sejam reis de algo mais do que a vossa própria destruição. Uma queda no ridículo que manchará para sempre aquilo que vocês são, um peso que arrastar-vos-á pela lama até que não vos reste nada mais do que a própria pele. Crescer não está na quantidade de centímetros que vos ergue a cabeça, não está na forma como se apresentam ao mundo. A maturidade mede-se nas acções, na quantidade de responsabilidade e respeito que vocês conseguem usar para carregar a tal cabeça.

Deixar para trás de forma radical tudo o que vos pareça infantil não fará de vós mais adultos, mas sim crianças infelizes. Afinal de contas, quem é que não gosta de andar de baloiço ou receber um abraço dos pais quando algo corre mal? Quem é que não gosta de arranjar um bom disfarce no carnaval, ou receber algo mais do que dinheiro no natal?

E depois se me forem dizer que de qualquer das maneiras nunca receberam nada do que eu mencionei acima, posso também dizer-vos que a parte mais importante de ser criança são os descobrimentos, a aventura de perceber por ti próprio o que é esta coisa que os adultos chamam de vida. Aprender, essencialmente, aprender. Ninguém aprende tudo sozinho e é aí que vão precisar de todos aqueles que andam a ridicularizar, os que percebem mais desta merda toda do que vocês todos juntos nesse vosso disfarce de pessoa muito fixe que não se importa com nada mais do que o cigarro ou a roupa bonita.

Estão a crescer, querem crescer? Então cresçam, mas respeitem, e saibam dar valor às pequenas coisas que vêm e estão pelo caminho. Cada momento é único e irreproduzível, se não estiverem atentos eles passam-vos por entre os dedos como água, vão pelo rio abaixo e ao contrário da chuva, não voltam mais.

Vamos ser todos crianças enquanto é tempo de o ser, vamos fazer porcaria, vamos arriscar, vamos criar, vamos sonhar. Agora! Porque se é como os adultos dizem e realmente há uma idade para tudo, não somos ninguém para estar a pular etapas. E um dia, quando for tarde de mais e olharem para trás, tudo o que vos vai restar será um vago “quem me dera ser criança outra vez” e adivinhem só… Não vai acontecer. Nunca mais.